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Bernardo Mota – CARTA DE UMA AMIGA por Ludymilla Santiago

Nunca imaginei que falar sobre um amigo seria tão difícil assim. Mas já que fui a escolhida espero aqui demonstrar o que sinto e penso sobre você, Bernardo Motta!!! Confesso que quando lhe conheci tive várias impressões malucas a seu respeito, e uma delas era achar que você era um garoto insuportável e metido. Mas também esse distanciamento foi importante para que eu te observasse de outro modo, e assim ir descobrindo qualidades que quando não somos próximos têm outro tipo de conotação.


Nossa história começa por conta do movimento social de travestis e transexuais, pois até aonde sei, quando você chegou, eu já tinha começado minha jornada, ainda bem que aqui vamos falar de você e espero que as pessoas não descubram minha idade com isso! Que bom que não sou boa com datas, pois tentei lembrar por vários dias antes de começar a escrever esse texto coisas que nos interligam de alguma maneira. E sendo assim o movimento social é responsável por nossa aproximação, pois quando começamos a falar de homens trans dentro desse movimento, pude ver como algumas questões que perpassam o corpo travesti e o corpo trans feminino eram também vivências de um corpo trans masculino. E ter ou ver esse movimento hoje conhecido como o movimento de homens trans ou de transmasculinos, me fez entender o quanto esses corpos também são especiais dentro de um contexto que foge totalmente da CISHETERONORMATIVIDADE, e hoje com a mais absoluta certeza temos um discurso único de que “eles que lutem”.


Hoje ver sua trajetória, a meu ver iniciada no IBRAT (Instituto Brasileiro de Transmasculinidades), faz com que eu possa estar aqui falando coisas a seu respeito de uma forma respeitosa e fraterna e que espero que tome uma dimensão inimaginável, já que é apenas um pouco da minha visão sobre quem é esse garotinho que em alguns momentos é mega ansioso com suas atividades e com questões sobre sua vida. Estamos em um momento da vida que nem imaginávamos, eu acho, pois como disse, eu não acreditava que íamos nos aproximar tanto assim. Pois de fato o mundo dá voltas e o destino nos prega peças, até porque agora estamos juntes em um mesmo coletivo fazendo com que as pautas da nossa população sejam vistas, revistas, repensadas, consideradas, respeitadas e milhões de outras coisas que juntes estamos fazendo com outres colegas que temos em comum. E em breve mais um coletivo irá surgir e estaremos lá como instituições diferentes. Mais, mas uma vez juntes. Tudo bem que já trabalhamos juntes representamos diferentes espaços e coletivos, só que nunca de uma forma tão misturada assim. Tudo bem que precisamos melhorar nossa aproximação social, pois nos vemos mais nos espaços políticos e no front de batalha do que qualquer outra coisa, não é mesmo mocinho? Apesar, que não é isso que me faz achar, que não faço parte da sua vida, pois conhecer sua mãe e alguns outros familiares seus me trouxe ainda mais certeza de que essa aproximação pode e deve ser duradoura e para coroar esse sentimento conhecer sua companheira ainda me traz muito mais para perto de você. Sendo assim não dá para não dizer que tens MUITO BOM GOSTO, e ver você e Mariana Motta juntes me faz acreditar que o AMOR é possível, e não estou aqui romantizando os contos de fadas, pois a meu ver vocês não são aquele casal cisgênero “convencional”, ou melhor, performados por uma sociedade hipócrita na qual temos que estar, até mesmo porque conviver, estamos aprendendo a cada dia que passa, que não é necessário e que não somos obrigados a isso, não é mesmo?


Sendo assim vejo que nossas trajetórias ainda se cruzarão por diversas vezes contando e trazendo várias conquistas para nossas vidas e para nossa população. Sei que em alguns momentos podemos nos estranhar, discutir, brigar, se desentender e até ficarmos sem nos falarmos, mas também não acredito que todas as amizades serão sempre só amor, até mesmo porque esse sentimento não é inerte. E temos que cultivar isso a todo o momento para que o sentimento permaneça, se fortifique e se engrandeça. Então fica a dica que amiges também se repulsam em algum momento. E que às vezes trilhamos caminhos que nos distanciam, mas vejo isso como uma coisa natural ainda mais se for feito com respeito.


E acho melhor eu parar por aqui para não começar a entregar alguns contextos que nem todes precisam saber (brinks, não seria eu se não fizesse isso). Te acho um carinha incrível e espero ter cumprido com o meu papel em relação a essa homenagem, pois estava em viagem de militância e você sabe o que é isso, mas não podia deixar de gestar esse momento AMIGO. Enfim, depois de quase uma semana apagando e reescrevendo o que eu podia falar sobre você, essa é uma pequena parcela da nossa convivência amore. Pensei em colocar fotos aqui (mais confesso que o tempo estava corrido e procurar fotos seria uma complicação já que não sou a menina digital, e hoje tudo é assim), mas para quem acha que uma imagem fala mais que mil palavras sigam nossas redes e nossos trabalhos que assim entenderão mais e melhor esse história.


PS: Ludymilla Santiago
(vou cobrar viu)