CARTA DE UM EX-ALUNO DA UnB – por Aluízio
“Dona Marly , cabelos brancos, sorriso largo, voz doce de tia carinhosa. Sempre afável, simpática e eternamente preocupada com os seus “meninos do jaleco branco”. O seu ponto era a moradia das nossas atenções, passávamos por ela e éramos seduzidos pela sua capacidade de nos alegrar. Conhecia todos os estudantes pelo nome, quiçá pelo apelido. Era uma bússola para os calouros que se perdiam nos entremeios do campus. Referência importante dos corredores desnudos de calor humano da FS. O banquinho, a mesa e o abraço tinham um significado especial em nossas vidas. Era o bálsamo das atribulações em nosso pequeno mundo. Conselheira, amiga, seu espírito apaziguador resolvia conflitos e consolidava encontros. Tinha sempre um cafezinho quente adocicado nas suas conversas animadas. Os livros? Ela conseguia todos. Pagamento? A perder de vista. Tinha um olhar que consentia “penduras” pois era parceira daqueles que com sacrifício tinham seis anos a estudar. Coração grande, mãe gigante, sofreu e foi resiliente na morte de seu querido filho. Quase não aguentou, mas com determinação continuou a sua caminhada com dignidade e fé. Exemplo de trajetória. Exemplo de perseverança. Acompanhada pela Denise, voltou a acreditar no significado da vida ao se debruçar nos dois pilares de sua existência: a sua neta Lili e o trabalho. Dona Marly é o símbolo de uma faculdade mais poética, quase família, cuja estante agregava alunos e professores em um espaço completamente democrático. Gostava de trabalhar. Não tinha tempo ruim, nem relâmpago, nem raios a aparecer no céu, só enxergava a luz do arco-íris em um otimismo quase teimoso. Eram os idos de livros de páginas, antepassados do atual e-book. Seu canto era a parada da correria, o banho relaxante após a desenfreada maratona em que vivíamos. Nos sentíamos aquecidos no seu abraço tonificante. Reenergizados, para mais provas e malucas imersões no hospital. Se foi a Madrinha de gerações de médicos, deixa saudades. Ainda tenho seus livros em minha estante. Memórias importantes de um passado afetivo e romântico. Dona Marly, está agora a nos olhar com um sorriso simples de pura bondade abraçada ao Hervalzinho e ciente do cumprimento de sua missão. Fique com Deus, seu lugar é insubstituível.”
*Texto escrito por um ex-aluno, hoje médico formado na UnB, Aluízio, que não soube que além de seu filho Herval, vovó posteriormente à sua formatura perdeu as outras duas filhas. (Eu, Lili, amei a homenagem)